Vêm aí mais um mês de Maio, Mês do Coração. Todos os anos é assim.
Apesar de o comemorarmos apenas uma vez por ano, há quem o viva todos os dias. Há quem, por variadíssimas razões, tenha que o ter sempre presente, a condicionar a sua maneira de viver ou de estar.
Foi um mês que provavelmente esteve no seu imaginário sempre que nos ouvia na rádio, nos via na televisão ou sempre que passava os olhos pelas notícias que apareciam nos jornais e nas revistas, mas sem nunca lhe dar a devida importância.
Provavelmente muitos outros tiveram a felicidade de nos ouvir, de nos ler, de seguir alguns dos nossos conselhos, de ter feito algumas das mudanças que sempre propomos e que sempre incentivamos.
Seja como for, há provavelmente muitos mais este ano que nos irão dar muita atenção e que nos irão escutar com outros ouvidos e isto porque de 2003 para 2004 morreram menos pessoas por doenças cardiovasculares em Portugal (cerca de 9,5%).
A proporção de óbitos pelas doenças do coração tem vindo a diminuir ao longo dos anos, encontrando-se em 2004 nos 36,2%.
É excelente dirão alguns, é assustador, dirão outros.
De 2003 para 2004 conseguiu-se evitar que morressem cerca de 11 pessoas por dia, o que é efectivamente excelente.
No entanto apenas se evitou que 11 acidentes vasculares cerebrais ou 11 ataques cardíacos fossem fatais, não se evitou que aquelas doenças aparecessem, o que visto por este prisma parece ser assustador.
Há cada vez menos mortes (graças a Deus que as conseguimos evitar), mas há cada vez mais doentes, o que infelizmente não estamos a conseguir evitar. Este ano a Fundação Portuguesa de Cardiologia vai dedicá-lo novamente à obesidade.
É de facto um problema grave de saúde que tem vindo a crescer nas últimas décadas. Somos geneticamente capazes de resistir às privações, à escassez e à fome, mas não estamos metabolicamente preparados para a abundância.
Há cada vez mais obesos e pré-obesos (aqueles que têm sido classificados como tendo excesso de peso) e esta realidade está a atingir, de uma forma alarmante as nossas crianças, aquelas a quem não queremos que lhes falte nada (de saúde entenda-se), aquelas que amamos do fundo do nosso coração.
Mas este ano a questão da obesidade vem associada a um problema de saúde grave, a diabetes. Já falámos da obesidade e do sedentarismo, da obesidade e dos excessos alimentares, e este ano juntámo-lo à diabetes. A obesidade e a diabetes há anos que vivem juntas.
Melhor seria se nunca se conhecessem, mas a vida tem destas coisas e as doenças cardiovasculares, são para os diabéticos “amargos de boca” com que têm que viver.
A associação entre estas duas doenças é tão forte que não só o diabético é um doente que mais cedo ou mais tarde vem a sofrer de doenças cardiovasculares, como também os doentes cardíacos vêm a sua frágil saúde a complicar-se, muitas vezes, com a diabetes.
A obesidade é assim um factor comum às duas. Associados à obesidade, vêm o colesterol, a tensão arterial, o sedentarismo entre outros problemas, mas por outro lado são poucos os diabéticos que não sejam no mínimo pré-obesos, que não sejam sedentários que não tenham um colesterol elevado e uma tensão alta, entre muitos outros problemas específicos desta doença. Digamos que não há quem seja só diabético.
De certeza que se encontra um conjunto de outros factores que implicam também o coração. O diabético chega a fazer pequenos enfartes no coração (que só se vêem mais tarde no electrocardiograma) sem aquele desconforto no peito que o indivíduo não diabético sente e que o motiva a ir ao hospital.
Até parece que o diabético está irremediavelmente “agarrado” ao ditado que diz, “um mal nunca vem só”.
No entanto, um diabético que adopte uma alimentação mais cuidada, menos abundante e mais variada, que faça uma actividade física que lhe dê prazer e que reduza o seu peso, consegue também controlar melhor a sua diabetes, a sua tensão arterial, consegue andar com o colesterol mais perto dos valores recomendados, consegue, no fundo, viver uma vida plena.
Dr. Luís Negrão
Coordenador Mês do Coração 4 de Maio de 2007