Da imprensa de hoje, JN:
"Os deficientes motores internados no Hospital Rovisco Pais (HRP), na Tocha, vão usufruir de carros eléctricos que dispensam condutor para deslocações entre os pavilhões da instituição. O projecto é inédito e está a ser desenvolvido na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e no Instituto Pedro Nunes. A sua pertinência decorre da distância que separa os pavilhões do HRP, que tem 144 hectares, e o tipo de doentes internados pessoas com défices extremos de locomoção, como paraplégicos, que percorrem quilómetro e meio entre os edifícios onde dormem e onde fazem reabilitação física.Actualmente, as deslocações fazem-se numa "carrinha que exige motorista e é pouco ecológica é cara!", resume o director hospitalar Fernando Martins, ressalvando o caso dos paraplégicos que fazem, com bom tempo, o caminho de cadeira de rodas. Com os carros "inteligentes" - a direcção e velocidade são determinadas por informação transmitida magneticamente por um cabo disposto ao longo do caminho -, o HRP oferecerá mais autonomia aos doentes. Bastar-lhes-á carregar no botão de um PDA, para chamar o carro, entrar e carregar em novo botão, correspondente ao destino. Os tetraplégicos poderão não dispensar o acompanhamento de um auxiliar, embora o líder do projecto, Jorge Dias, preveja que o carro também obedeça a comando de voz.Ainda não há data para a inauguração deste transporte, mas é prometido empenhamento. "Temos um grande problema de mobilidade, pelo que, quanto mais rápido o resolvermos, melhor", diz Martins. O HRP aguarda a importação de carros, com lotação até oito cadeiras, e a posterior instalação da tecnologia que está a ser desenvolvida pelos investigadores Jorge Dias, António Cunha, Hugo Freitas e Pedro Serra.A novidade do projecto é o uso de veículos sem condutor com pessoas (já são usadas na indústria com mercadorias) e em contexto hospitalar. A Holanda está a desenvolver uma experiência com transporte de pessoas, na cidade de Roterdão, mas foi suspensa, por problemas técnicos."É um bom projecto!" Em 2005, Marco Marques, 33 anos, caiu de um pinheiro e ficou paraplégico. Vai no terceiro internamento no Hospital Rovisco Pais, concelho de Cantanhede, e já dá uns passos, com canadianas. Mas é em cadeira de rodas que faz viagens diárias de um quilómetro e meio, entre os pavilhões onde tem cama e mesa e onde faz reabilitação física. Ontem, ao fim de dez minutos de conversa com jornalistas, inclinou-se para a frente, mirou um carro em testes, recostou-se novamente na cadeira de rodas, e deu a sentença "Não, isto é um bom projecto!". E manteve a opinião, sem queixas, no regresso da viagem experimental. Revelou-se menos exigente do que o outro paraplégico que experimentou o carro. Não admira: Nelson Oliveira, que tem 31 anos e sofreu um grave acidente de moto, é engenheiro mecânico. Achou o carro "bastante funcional", mas disse que "tem um arranque violento [a velocidade máxima é 10 km/hora] e é muito instável para uma pessoa com uma lesão medular mais alta". Líder do projecto científico, Jorge Dias respondeu que o arranque é afinável e a instabilidade deve-se ao desgaste das suspensões do veículo, em testes diversos há anos. Mas, frisou, "este tipo de críticas é mais que bem vindo". "A engenharia em Portugal peca muito por falta de atitude crítica dos consumidores", observou."
Nelson Morais