DIA 1 DE OUTUBRO - DIA MUNDIAL DO IDOSO
Por oposição ao ‘baby-boom’ dos anos 50/60, fala-se agora do ‘papy-boom’ (’papy’ de avô).
Uma explosão demográfica, que se deve ao melhoramento das condições de sobrevida, e obriga a uma mudança de mentalidades...
Podemos então fazer uma pergunta:
Se eles se mantêm activos na sociedade e na família, porque não debaixo dos lençóis?
Será o Sexo na terceira idade: TABÚ?
Desde sempre que o sexo e segredo viajaram de mãos dadas. Preconceitos e tabus abundam quando a sexualidade é tema. Sobretudo quando os seus protagonistas já passaram a barreira dos 60/70 anos.
Dos idosos, pensa-se que são assexuados, que neles já não nasce o desejo sexual. Eles próprios, foram educados em ambientes repressivos, vivem a sua vida sexual com culpa.
Mas afinal o sexo na terceira idade é ou não possível, é ou não gratificante? Podem ou não os idosos ter uma vida sexual activa? A resposta é sim, claro que sim!
Dobrámos há seis anos a fronteira do século, mas em matéria de tabus o tempo passa mais devagar do que no calendário. As sociedades ocidentais modernizam-se, renderam-se à informática e à Internet, homens e mulheres adaptam-se aos novos instrumentos de trabalho. Mas as mentalidades continuam a resistir à mudança e a alimentar os velhos mitos.
Um desses mitos é o de que não há sexo na terceira idade. Nada mais errado! No entanto é um preconceito generalizado, a tal modo que os próprios protagonistas do envelhecimento vão acreditando nele, pondo de parte desejos e prazeres quando acaba o fito da reprodução. Porque afinal, muita gente ainda atribui ao sexo a mera função reprodutora.
Então é preciso desmistificar esta realidade. É certo que com o envelhecimento se produzem transformações fisiológicas no homem e na mulher, mas não são inibidoras da actividade sexual. Com a idade, o sexo, tal como outras actividades, vai apenas ficando menos necessário. A sofreguidão dos jovens dá lugar à acalmia da maturidade.
Os idosos não perdem o apetite sexual. Simplesmente, já não têm pressa. Podemos dizer que, enquanto os mais novos obtêm maior gratificação na quantidade, com os mais velhos reina a qualidade. É claro que a frequência das relações sexuais diminui, mas o grau de satisfação pode ser o mesmo. Afinal, também aqui a experiência conta.
Pode-se até perder alguma da capacidade "técnica" (deixem-me chamar-lhe assim!), mas não diminui o prazer que o idoso sente quando o seu corpo está em contacto com outro. Até porque – e isto vale para todas as idades – (como já podemos ouvir) a sexualidade de uma pessoa não se esgota no acto sexual em si.
Existem alguns aspectos que potenciam estes preconceitos da sexualidade e do sexo no idoso:
O peso da educação:
A vivência da sexualidade na terceira idade nada mais é do que a continuação de um processo iniciado na infância. São as alegrias, culpas, vergonhas e repressões de cada um, associadas às modificações fisiológicas e anatómicas que a idade impõe, que determinam o comportamento sexual do idoso.É um facto que a geração actual de idosos é fruto de uma educação ainda muito repressiva. Os pais tinham como orientação sexual conceitos muito repressores, agora considerados retrógrados, segundo os quais o sexo era sujo e pecaminoso, para ser praticado na escuridão com o intuito de dele nascerem filhos.
Mas a educação não é o único fardo que os idosos suportam. Também o ambiente social é, regra geral, repressor. Só o corpo não respeita estas normas, continuando a manifestar-se quando a idade avança. Só que, divididos entre os preconceitos sociais e os impulsos, muitos idosos acabam por viver a sua sexualidade com muita culpa.
Para toda a vida:
A função sexual acompanha o homem toda a sua vida. E é naturalmente condicionada pela cultura, pelos valores, pelos estereótipos de masculinidade e feminilidade, bem como por aspectos psicológicos e emocionais.
Um adulto jovem utiliza o seu relacionamento sexual como um importante meio de expansão emocional, de acordo com os seus valores culturais. A sexualidade acaba por ser um instrumento de poder, mesmo de afirmação social. Mas com o nascer dos filhos, a sexualidade ganha novos contornos com a associação ao papel de pai e mãe.
É então que, criados os filhos, surgem os primeiros problemas. Sobretudo para as mulheres, assaltadas por vezes com dúvidas sobre o seu novo papel. Quando termina a idade reprodutora, é fácil multiplicarem-se os sentimentos de desvalorização pessoal, traduzidos em repúdio pelo corpo e repúdio pelo companheiro.
Com as alterações hormonais, a mulher não perde a capacidade de sentir desejo nem a capacidade orgásmica, mas é frequente sentir-se menos atraente, incapaz de despertar desejo no companheiro.
Mas há mulheres para quem a nova etapa da vida é sinónimo de liberdade, de poder assumir a sua sexualidade sem o risco de uma gravidez, sem a pressão do tempo que era exigido pela educação dos filhos, muitas vezes sem a pressão da realização profissional. Mais, depois da menopausa, muitos autores defendem que, em geral, a mulher se liberta de inibições que possam ter atrapalhado a sua vida sexual anterior.
Como sempre, os homens não têm os mesmos problemas. A idade não diminui irremediavelmente a fertilidade, sendo bem conhecidos casos de homens que foram pais muito tardiamente, depois dos 70 anos. A crise não surge então associada à fertilidade, mas sim e sobretudo – à potência sexual.
O corpo muda, é um facto. O tempo deixa marcas menos visíveis do que as rugas, marcas que se notam apenas na intimidade. O vigor sexual já não é o mesmo, a resistência também não. O homem pode então apresentar sintomas de impotência, que se podem dever a dificuldades circulatórias ou à diminuição da sensibilidade na região do pénis. Mas na maioria das vezes a impotência na terceira idade surge associada a factores emocionais.
Questões orgânicas à parte, o sentir-se velho pode em si ser causa de impotência. Quando o homem parte para uma relação sexual com ansiedade, angústia, está a condená-la ao fracasso, com a consequente infelicidade e baixa de auto-estima. Podendo comparar-se a:
“Uma fogueira sem chamas mas que ainda queima”!
E muitas vezes os quadros de ansiedade que acompanham a tentativa de desempenho sexual na terceira idade devem-se a preconceitos, a vergonhas que foram incutidas pela educação, à ideia – errada – de que o idoso, seja ele homem ou mulher, é assexuado.
Aos nossos avós não os imaginamos a "fazer amor", mas apenas a trocar carinhos, reconfortados com a simples presença um do outro.
É claro que na terceira idade, muitas vezes depois de uma vida juntos, o que prevalece é o afecto, a sensação de aconchego. E o sexo, a sexualidade do idoso é a manifestação disso mesmo. Na terceira idade faz-se amor com valores, não apenas com desejo. É claro que a satisfação física se mantém, mas com ela cada parceiro reafirma a sua identidade, mostra ao outro o quão valioso ele é.
E isto vale tanto para o homem como para a mulher!
Deixo-vos só duas histórias, que transcrevi de uma reportagem da Jornalista Fernanda Cachão do Jornal Correio da Manhã:
(Os nomes fazem parte da reportagem e como tal não foram por mim omitidos)
JOSÉ LUÍS ANTUNES DA COSTA tem a vida dividida entre duas mulheres: a com quem casou e a de quem se enamorou há um par de anos. "A minha senhora não é muito agarrada a mim. Passam-se um mês, dois e nada. Ora eu tenho 73 anos mas funciona, Graças a Deus, e ainda preciso de uma mulher para me dar carinho, para tudo."
O campeão de pesos-pesados de 1954 e 1956 reconhece que o proceder dele levanta dúvidas, mas a necessidade de um meigo regaço fala muito alto. A sua costureira está "estimada" e é muito calma, o reverso da medalha da legítima, ausente mas muito ciumenta.
"Ela diz-me que ainda vai saber quem é a outra e que depois faz e acontece mas é só conversa."
O namoro ateou-se no Ginjal, em Almada, num dia em que o ex-pugilista e a costureira cruzaram o salão de baile enfadados com a sua própria vida. O caso atou como nó de marinheiro.
José Luís ainda atravessa o Tejo para ir à sua casa, à esposa que lhe lava e passa a roupa, mas o remanso gostoso tem ele do outro lado do rio, em Lisboa. "Acabei com a maluquice de andar com uma e com outra. Agora tenho esta senhora. E que não me venham dizer que, a partir de certa altura, o sexo não tem importância porque tem."
Uma vida sem uma dor de cabeça, sem uma falha no item que lhe interessa, foi posta em causa há três anos. Um electrocardiograma lembrou-o de que o tempo passa, que já não é o campeão dos anos 50, que o que nunca falhou pode quebrar um dia.
"Talvez o repouso ajude a que nunca tenha ficado mal mas sei que isto não é eterno. Se algum dia chegar tenho um desgosto. Mas espero que isto esteja bem mais uns bons anos."
MARIA ARMINDA GUERREIRO teve cinco filhos de um marido que ia e vinha e, quando vinha, era só para a deixar mais mãe. "A minha tia dizia: 'os vossos encontros são só para arranjar bebés. Eu respondia: 'que é que vou fazer?! ‘ É o meu dever de mulher e de mãe."
Maria Arminda tem 88 anos, é angolana, veio para Portugal depois do 25 de Abril. Nos seus olhos, a saudade de Sá da Bandeira onde casou virgem com Zé Rufino.
A vida entre os lençóis foi tapada por uma existência sofrida, ele gostava de bebida e liberdade e ela de carinho. "À maneira dele, acho que gostava de mim mas só para arranjar filhos?! Não senhor, os filhos precisam de comer, de vestir e o carinho para eles, para mim?! É só na cama que a gente gosta da pessoa?!" Festas e beijos, Maria Arminda teve em dose curta e ressentia-se: "Eu devia gostar porque lhe dizia: 'os carinhos não são só quando estamos deitados."Na sua existência pendular, Zé Rufino acabou os dias na África do Sul e ela não voltou a casar.
Quis o destino que um dos filhos do casal saísse ao pai: o rapaz cortou o Atlântico para o Brasil e, durante quinze anos, ninguém soube dele. "Um dia, a minha nora disse-me que ia tratar da sua vida e eu respondi-lhe que me parecia muito bem. Casou com outro e é muito feliz a minha nora."
Maria Arminda esfrega o punho da sua bengala, como se este fosse mágico e pudesse o tempo voltar atrás. "Eu acho bonito, a história da minha nora. Às vezes, ainda digo: este calhava-me mas é só brincadeira. Agora é muito tarde. Ficava mal."
Na terceira idade, como em qualquer outra idade, a actividade sexual é uma demonstração de boa saúde, física e mental.
Os tabus sempre andaram associados à sexualidade. As conversas sobre sexo alimentaram-se sempre de secretismo, terreno fértil para a propagação de conceitos errados. Para um pai ou uma mãe, é um sobressalto quando os filhos pequenos fazem as primeiras perguntas. Faltam sempre as palavras, por mais esclarecidos que sejam. Em relação à terceira idade assim acontece também.